Kika Bradford

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O escalador paulista Luciano Fernandes, autor do conceituado Blog de Escalada, vem cada vez se especializando em realizar boas entrevistas. Desta vez nosso colunista conversou com Renata (Kika) Bradford, uma das maiores escaladores do Rio de Janeiro e responsável pelo Programa Acesso às Montanhas da Femerj. Confira:

Quem acompanha o Blog de Escalada já deve ter percebido que procuro sempre colocar entrevistas com grandes personalidades do mundo da escalada. Aconselhado por um amigo, estou procurando fazer mais entrevistas com escaladores dos quais nunca fiz, e que embora com grande renome, não se encontra muitas entrevistas pela internet.

Kika fazendo o que mais gosta, escalando.

Com isso estou procurando fala com estas pessoas, para que tenham perpetuado na internet suas palavras a respeito do esporte que eu pratico, e que este humilde blog é dedicado.

Por isso procurei a escaladora carioca Kika Bradford, a qual não conheço pessoalmente, mas sempre escuto palavras elogiosas a seu respeito.

Kika é escaladora a muito tempo,e não há uma só pessoa, homem ou mulher, que não tenha elogios a fazer a ela.

Procurei a escaladora na semana passada para que ela conceda uma entrevista para falar um pouco mais de si e da escalada em geral.

Seus pensamentos, viagens e idéias podem ser acompanhados em : http://mundodemontanha.blogspot.com/

Abaixo está a entrevista :

1 – Kika, como e quando foi que começou a escalar?

Durante minha adolescência, fui muito a para o Paiol Grande, um acampamento / colônia de férias em São Bento do Sapucaí, SP, cujo símbolo é o Baú.

Subi muitas vezes pelas vias ferratas, apesar de não saber que eram denominadas assim, e sempre quis escalá-lo.

Fiz um curso básico com a Katinha (tenho muito orgulho da minha professora!), mas não comecei imediatamente após isso porque não conhecia ninguém. Depois de uns 2 ou 3 anos (em 1998), comecei a escalar junto com dois amigos, Pedro e Christian (todos começamos juntos), e me “viciei” imediatamente.

Foi um ano de muitas descobertas, boas parcerias e aprendizado.

2 – Para você o que mudou na escalada do período que começou até hoje?

Acredito que a organização na escalada está muito mais avançada.

Atualmente, há o desafio do crescimento da escalada e da industria do ecoturismo e turismo de aventura que coloca mais pressão sobre o ambiente de montanha, criando uma necessidade cada vez maior de ações de conservação e educação.

3 – Desde que começou a escalar, quais foram os locais que considera quase que “obrigatório” a todo escalador conhecer?

Bom, isso depende do tipo de escalada em que a pessoa se interessa. Acho que também depende do “coração”: os Paranaenses falarão o Marumby, os paulistas o Baú. Eu, como carioca “da gema”, falo o Pão de Açúcar e o Dedo de Deus como lugares de lindas escaladas e com grande valor histórico.

4 – Você é uma das pessoas mais envolvidas no tema de acesso às montanhas, como começou este engajamento?

Trabalho com a organização da escalada desde 2002 quando entrei para a AGUIPERJ.

Em 2007, quando sai da AGUIPERJ, entrei para o Departamento Técnico da FEMERJ e fui progressivamente migrando para as questões de Acesso.

Hoje coordeno o Programa Acesso às Montanhas e sou a Diretora Executiva (que nome chique, não?) do Access PanAm.

Através desse último, passei 10 dias no Access Fund, meio que um estágio, onde aprendi muitíssimo.

Descanso merecido após escalada.

5 – Como você está vendo a ameaça que a escalada está sofrendo com o “caso ABETA”

Que pergunta (risos)!

Para ser bem sincera, já tive diversas opiniões sobre esse assunto.

Atualmente, prefiro ver a ABETA como uma potencial aliada do que uma ameaça.

Não acredito que já chegamos a realmente criar essa parceria benéfica para a escalada / montanhismo (CBME) e ABETA, mas acho que seria interessante caminhar para isso. Isso não quer dizer que eu concorde com tudo que a ABETA faz ou defende, por exemplo, eu não acredito que a Certificação de Pessoas da ABNT para escalada e montanhismo (defendida pela ABETA) é boa.

Ela, a meu ver, possibilita a certificação de pessoas sem, necessariamente, a capacidade técnica e experiência para garantir a segurança de clientes.

De qualquer forma, acredito que o ideal é trilhar um caminho para cooperação, o que acho que não será fácil, ainda mais com a linha tênue entre turismo e atividade que acabou se confundindo em diversas ocasiões, a última sendo o PL 7288/2010.

Avante!

6 – Para o escalador que deseja participar também desta luta para o acesso às montanhas, o que ele deve fazer?

Envolvendo-se no Processo geral ou sendo um voluntário do Acesso as Montanhas (AM) regularmente.

Para isso, a melhor opção é falar com a gente para definirmos juntos como essa ajuda será. Necessitamos de voluntários para diversas áreas, a principal é o Departamento Jurídico.

Em casos específicos de problemas de acesso, é importante entender o que está ocorrendo e obter as informações importantes, Conversar com o AM e para entender como cada um pode ajudar em casos específicos e traçar uma linha de ação em conjunto.

Para quem não tem muito tempo disponível, essa ajuda pode ser de forma “indireta”:

• Se associar a FEMERJ
• Comprar nossos produtos, como a camiseta do Programa Acesso às Montanhas
• Fazer uma doação.

É importante notar que todos montanhistas e escaladores são responsáveis por manter acessos abertos:

• Siga os princípios éticos divulgados pela FEMERJ / CBME
• Siga os princípios do Pega-Leve Brasil
• Respeite os regulamentos das UCs,
• Respeite as regras estabelecidas pelos proprietários privados.

7 – Todo escalador tem um projeto de escalada em mente, qual está sendo o seu?

Curar meu corpo (perna e joelho) para poder voltar a ter projetos mais concretos.

8 – Como é a sua preparação física para ir escalar? Somente escala, ou frequenta academia, pratica corridas , e etc?

Eu até gostaria de ter disciplina de fazer outras coisas, mas no final eu só escalo mesmo.

9 – Se fosse para você escolher como destaque um feito (via, montanha, viagem, conquista, etc) seu, na escalada, qual seria e porque?

Que pergunta difícil. Meu sentimento de recompensa está muito ligado ao conhecimento que obtive durante a escalada. E como saber onde aprendi mais ou melhor ou, ainda, coisas mais importantes?

Minhas conquistas no Espírito Santo foram muito marcantes pela aventura e sensação de descobertal, as big walls me ensinaram muito de frustração, determinação, disciplina e paciência, e as experiências alpinas me fazem quase transcender meu corpo físico (risos), me ensinando muito sobre superação e quem eu sou. Sei lá…

10 – Ser uma mulher de relativo destaque em um universo tão masculino como a escalada tem algum segrego?

Acho que independente de sexo / gênero, o importante é ter coração, paixão e motivação. Seja pelas vias quer escalar, montanhas que quer preservar ou acessos que quer negociar.

11 – Para as mulheres que estão começando a escalar, ou que estão desanimadas para a escalada você tem alguma mensagem?

Kmon para a montanha!

12 – Como é para você conciliar a vida pessoal com uma vida de escalada intensa?

Até esse ano minha vida estava quase toda relacionada com escalada.

Agora tenho outras questões para as quais estou me dedicando e estou feliz com isso. Encontrar o equilíbrio é um desafio possível quando o coração assim o quer.

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