História e evolução dos friends e proteções ativas

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Os equipamentos móveis ativos permitiram uma grande evolução na escalada, por permitir uma fácil e segura colocação, possibilitando uma revolução na maneira de escalar, sem deixar rastros, num estilo limpo e bastante avançado. Confira o texto de Stéphane Pennequin traduzido e adaptado por Davi Marski.
Estes equipamentos incluem um bizarro aparato para fendas largas, que se adaptam de forma surpreendente”. Isto foi escrito por George Livanos em Au-delà de la Vericale relatando o seu encontro em 1949 com o grupo de Couzy-Schatz em sua tentativa de escalar a face oeste do “Dru”.
O que seria se o primeiro mecanismo ajustável ou adaptável fosse francês?  Nesses períodos obscuros os escaladores e alpinistas possuíam pouco respeito por seu “parque de diversões” e usavam instrumentos agressivos como pítons.  Havia uma única filosofia e esta começou a ceder espaço para ferramentas modernas que permitiam o sucesso na escalada com um dano mínimo à montanha.
Jean Couzy que além de escalador fazia alta montanha, tendo em seu curriculum de montanha a conquista do Makalu em 1954, era um engenheiro da indústria aeronáutica francesa, e ele criou o seu próprio aparelho, feito de duralumínio, para a escalada da face norte da “Cima Ouest di Lavaredo”, no qual fez uma tentativa com René Desmaison em 1958. Tudo bem que ele não encontrou uso para o seu aparelho nessa escalada em especial.
 Uma espécie de Nut ajustável, utilizada para escaladas artificiais, feito em dois tamanhos, finalmente foi divulgada pela empresa francesa Joanny em 1972 sob o nome de “Visse-Roc”.
Enquanto isso, outro grupo francês (Franck Ruggeri e Didier Ughetto) montaram um série de nuts ajustáveis para serem usados na face norte do “Corno Stella”, em 1962. Muito parecidos com o “Visse-Roc”, estes “nuts” eram feitos de madeira dura, em cinco tamanhos e o maior de todos dava para ser usado em fendas de 26cm de largura.
Do outro lado, Warren Harding utilizava um nut caseiro durante a primeira escalada da Astroman (Yosemite), em 1959… esse aparelho ficou conhecido como “Harding Slot”.
Inicialmente estes aparelhos eram usados para proteger a escalada em fendas bem largas: um objeto de tamanho ajustável era inserido em uma fenda de lados paralelos (ou próximo disso) e oferecia uma alternativa viável ao invés de madeiras e pítons…
Em 1967, nos Estados Unidos, surgiu a primeira versão para resolver os problemas das fendas paralelas:  Greg Lowe inventava o “Crack Jumar” , e foi o primeiro aparato que utilizava um conjunto de molas que mantinham cada lado do aparelho encostado à parede da fenda.
Era algo realmente primitivo (e inovador), Greg Lowe e seu irmão, Mike Lowe, deram inicío então a pesquisas em busca de uma nova estrutura : foi a época da exploração do conceito dos cames (cams).
Em 1972 os primeiros protótipos ficaram prontos: eram acionados por molas, mas eram de péssima colocação e não ficavam “parados” no lugar.
Em 16 de agosto 1973 Greg Lowe patenteou sua invenção: ele havia encontrado o conceito de ângulo constante do came. Em sua patente, Greg Lowe falava da possibilidade de dois cames opostos, como algo para o futuro. “O corpo principal do came é projetado a manter um ângulo fixo com a superfície, independente da superfície em si”, publicou Lowe certa vez.
Um dos primeiros protótipos foi entregue a Royal Robbins para que ele avaliasse. Ele sugeriu o uso do nome “Camel” (camelo)  para o que veio a se tornar o “Lowe Cam Nut”, também conhecido como “Super Nut”. Em sua primeira propaganda, na revista americana Climbing, de maio de 1973, ele era sugerido com o preço de US$ 3,95. Uma verdadeira pechincha para esta revolução.
Entretanto, as vendas foram um fracasso inicialmente… logo surgia uma versão mais sofisticada, chamada de “Split Cam”, que era feita com dois cames e dois braços independentes,  e foram utilizadas com sucesso na escalada de Ed Webster da “Super Crack of the Desert” (em Utah, 1976).
Durante o inverno de 1973/1974, Ray Jardine, que trabalhava com programador de computadores em simulações de vôos espaciais no final dos anos 60, começou suas próprias pesquisas em segredo. Com grande dedicação, e sem dúvida, com o apoio de todo o seu conhecimento científico, ele estabeleceu um propósito ambicioso de projetar um aparelho que tivesse um grande razão entre sua resistência e seu peso, ou seja, algo que fosse realmente forte e leve. Além disso, deveria funcionar com uma única mão e poder ser utilizada em uma grande variedade de tamanhos de fendas.
Com o seu conhecimento em Ciência da Computação, ele concebeu o formato do came em um mainframe (um computador de grande porte) da Universidade de Colorado, em Boulder. Seu amigo, Billl Forrest (da Forrest Mountaineering) era fabricante de equipamentos e deu ao Ray Jardine a oportunidade de montar seus protótipos ele mesmo em sua bem equipada fábrica. Houveram várias tentativas antes do grande resultado: O Primeiro Friend, o primeiro mecanismo composto por pares opostos de cames. Após várias semanas de intenso trabalho, surgia o Friend como conhecemos atualmente : era acionado por molas e possuía três tamanhos.
Nenhum dinheiro compensava a enorme motivação de Ray Jardine em sua nova criação. Ele mesmo era um escalador muito forte, e acreditava fortemente que sua invenção iria elevar os limites das escaladas em fendas mantendo a ética da escalada em livre.
Paradoxalmente, algum tempo depois ele foi acusado por alguns desafetos de estar “matando” o espírito da escalada “em livre”!
Graças a sua invenção surgiam as primeiras vias com o grau 5.13 no mundo, como a “The Phoenix”, em 1977. (algo como um 7c francês). Sua grande ambição agora era conseguir fazer a escalada da “The Nose” , no El Capitan, em um único dia.
Sentindo que ele havia levado o nível da escalada a um novo patamar, antes inimaginável, ele queria proteger a sua invenção, fruto de tantos meses de trabalho, e assim ele escalava apenas com amigos nos quais ele confiava.
Menos do que uma dúzia de escaladores experientes tiveram contato com a “arma secreta” do Ray Jardine. A situação chegava ao ponto de durante uma das escaladas, o escalador Kris Walker (que trabalhava na Forrest Mountaineering) perguntou ao Ray: “Você trouxe suas… ah… seus…” outros escaladores estavam presentes e o Kris Walker completou a frase dizendo “… friends? “ .
Antes desse incidente o Ray Jardine se referia a sua invenção como “grabbers”, o que certamente era muito menos romântico.
No verão de 1972 Ray Jardine trabalhou como instrutor para a Outward Bound, fazendo amizade com o britânico Mark Vallance. Eles escalaram juntos, primeiramente em Boulder e depois no Yosemite. Em 1975, Mark Vallance ajudou a fazer alguns novos protótipos, e sugeriu a sua produção em escala e comercialização dos friends.
Mas foi apenas em 1977 que ele deixou o seu trabalho e formou uma parceria com Steve Bean para montar uma companhia chamada Wild Country, voltando para a Inglaterra.
O primeiro anúncio saiu publicado no número 59 da “Mountain”, em janeiro de 1978. A propaganda foi idealizada pelo próprio Mark Vallance, que não tinha nenhuma dúvida que os leitores da famosa revista britânica iriam ficar impressionados em ver na capa da revista o próprio Ray Jardine, com sua mãos enfiadas na fenda horizontal, caminhando sob o teto da “Separate Reality” (um 5.12 ou algo com um 7a ou 7b nosso).
Ainda nessa propaganda da Wild Country, os misteriosos mecanismos de proteção eram finalmente apresentados, para os incrédulos escaladores.
Ray Jardine finalmente teve sua patente em 4 de junho de 1977 e iniciou a distribuição nos Estados Unidos, durante um curto período de tempo, sob a sua própria empresa, a Jardine Enterprises.
As primeiras peças tinham 3 tamanhos (1, 2 e 3 polegadas) e custavam cerca de US$ 17,80 cada uma. Eram feitas de alumínio de aviação e possuíam uma resistência impressionante. Na revista americana “Off Belay”, Ian Wade escreveu em junho de 1978 : “os Friends não são baratos”, mas ele explicava que “com 27 componentes diferentes em mais de uma centena de operações de fabricação, nunca antes uma ferramenta de escalada havia atingido tal nível de sofisticação tecnológica”.
Se alguma outra pessoa seria digna de levar os créditos pela invenção do conceito de cames pela comunidade de escaladores, Kris Walker disse que estes deveriam ser os inventores do ascensor mecânico “Jumar”, ou seja, os guias de montanha suíços Adolf Jüsy e o engenheiro Walter Marti, em 1958.  O Ray Jardine inclusive sugeriu que muito provavelmente a fonte de inspiração dos suíços para a invenção do “Jumar” foram os mordentes de cordas utilizados nos barcos.
Enfim, em 1981 Ray Jardine afastou-se do cenário da escalada para dedicar seu brilhantismo a outras áreas como velejar, caminhar e caiaque. Recentemente ele escreveu um livro sobre travessias rápidas de grandes (grandes !) distâncias : “The Pacific Crest Trails Hiker’s Handbook”. Este livro provavelmente revolucionou as grandes caminhadas assim como a invenção dos Friends revolucionaram a escalada.  Veja mais sobre o Ray Jardine em seu site : http://www.rayjardine.com
No início dos anos 80, os Friends eram a “arma”definitiva para escalada de fendas de um determinado tamanho, mas não havia nada equivalente para ser utilizada em pequeníssimas fendas paralelas…  Com um cabo de aço de 17mm e totalmente recolhido, nem mesmo o menor dos Friends entrava em uma fenda de dedos, ou seja, de 19mm de largura…
A solução foi obtida através do poder de duas pirâmides invertidas : desenvolvido por John Stannard e seus amigos, em Gunks, o mecanismo aparecia no catálogo da Chouinard (de 1977) como dois “Stoppers” invertidos.
Durante cerca de um ano e meio, Doug Philips tentou várias combinações de nuts em oposição até criar o seu “Slider”. Os primeiros protótipos surgiam e finalmente Doug conseguia colocar sua teoria em prática: Ele descobria que os dois lados (das peças) não geravam o mesmo coeficiente de atrito nos lados das fendas, e ele compensou isso colocando em um dos lados um metal mais macio, que também ficava em contato com a rocha.
A patente dos “Sliders”surgiu em 17 de outubro de 1983 e foi divulgada pela Metolius Mountain Products no mesmo ano.  Protegia fendas de 0,63 a 1,65 cm.
O mercado respondeu nos anos subseqüentes com várias outras soluções, todas inspiradas no trabalho pioneiro de Doug.
Em 1983, na Alemanha, a Edelrid fabricava o “Amigo”, em dois tamanhos diferentes, que possuía o mesmo princípio de peças deslizando uma sobre a outra. Projetada para fendas médias, de 36 a 52mm, essa solução virtualmente necessitava de uma “terceira mão” para poder colocar as peças em posição (o que obviamente restringia o número de escaladores capazes de utilizar o tal “Amigo”). Enfim, um ano depois, a Edelrid lançava o “Bivos”, que era uma invenção do Bernt Prause e possuía um cabo rígido (no melhor estilo dos “Friends”) mas apenas dois cames rotacionavam na ponta do cabo rígido, e assim perdiam a sua independência de movimento.
Outro rival do Friend foi inventado pelo muito criativo David Oldridge em 1982. Ele era um britânico que havia emigrado para o Canadá e fundou a “Canadian Quest Technology” e chamou sua invenção de “Buddie”.  Apesar do grande investimento em propagandas, ele não teve sucesso. Seu mecanismo tinha dois cames opostos feitos em alumínio e foi desenvolvido mais para ser utilizado como uma peça passiva, como um “nut” comum.
A patente de Ray Jardine cobria o conceito de “gatilho” para retrair os cames e também a barra rígida que segurava os cames. O uso do ângulo constante para o came não foi reconhecido como uma invenção. Qualquer outro concorrente teria que pesquisar outro desenho para não infringir as patentes do Friend.
Enquanto estava envolvido com seus estudos na Faculdade de Oregon, um jovem escalador, Steve Byrne, criava  uma pequena maravilha. Em 1982, sem chamar atenção, ele construiu um mecanismo com apenas ½ polegada de largura, e começou a vender no Yosemite como água… O primeiro lote de 50 dessas miniaturas, montadas em um cabo ou barra rígida de aço, foi comprado pelo lendário escalador do Oregon, Alan Watts e todos foram rapidamente revendidos.
Esses “meio-friends” eram mais pequenos do que qualquer coisa disponível no mercado americano. Nesse meio-tempo o Steve Byrne estava ajudando o Doug Philips (da Metolius) a fabricar os “Sliders”, realizando as delicadas soldas de prata.  Durante o inverno de 1983/84 os negócios estavam devagar para a Metolius e os “Sliders” eram difíceis de vender, então, Steve Byrne iniciou a construção dos seus próprios Friends, com um detalhe crucial : cabos flexíveis !
Subitamente ele deve a inspiração de construir quatro cames preços em um mecanismo de cabo de aço flexível em forma de “U”. Uma nova revolução tinha início !
Os TCU ou Three Cam Unit eram muito estreitos, entravam perfeitamente em fendas pequenas e o cabo de aço flexível permitia que fossem utilizados em fendas horizontais.
Doug Philipps não encorajou o Steve Byrne para patentear sua invenção, o que permitiu que todos os concorrentes fizessem seus próprios modelos.
Em 1985 Steve Byrne mudou-se para Flagstaff, no Arizona e deu início a sua própria empresa, a Wired Bliss. Oferecidos em cinco tamanhos, seus TCUs funcionavam em fendas de 0,4 a 1,4 polegadas. Infelizmente Steve Byrne estava muito perto de ter problemas, com uma companhia rival, melhor estabelecida nos Estados Unidos do que ele. Rapidamente ele competia com três rivais sérios.
Com o “Joker”, inventado em 1985 por Stefan Engers, a empresa alemã Bergsport deu entrada no mundo das proteções ativas. Com apenas dois cames e um único cabo com uma mola, ele apresentava a vantagem da flexibilidade e a capacidade da adaptação em várias posições.
Um figura lendária na escalada britância, Hugh Banner fazia ele mesmo micro-nuts de bronze no início dos anos 80. Em 1982 durante um bivaque no Camp 6, na “The Nose” (Yosemite), Mark Vallance perguntou porque ele não fabricava seus “offsets” para a Wild Country. Mestre no processo da solda com prata, Hugh Banner começou a trabalhar com seus mecanismos de cames.
No começo era um réplica britânica dos TCU da Wired Bliss, mas com um gatilho engenhosamente modificado e que podia ser utilizado com apenas um único dedo.
Hugh Banner patentou sua invenção em 5 de agosto de 1987 e chamou de “Micromates”. Eram os primeiros TCUs na Inglaterra (através da Wild Country). Muito bem construídos, eles completavam a saga dos Friends.
Hugh Banner passou a buscar sua independência e montou a HB Climbing Equipament em 1988. Para ter “o que vender” ele pegou o conceito do cabo em “U”, flexível,  e lançou o “Quadcam”, sendo o primeiro tipo de proteção em seu estilo. Ele usou o bronze para as peças de menor tamanho, e não parou por ai: Em pouco tempo ele usou a sua habilidade no processo de forja “a quente” para criar um novo mecanismo de barra rígida: o “Fix”.
A barra do Friend original era feita de um pedaço de alumínio extrudado. Por sua vez, a forja “a quente” garantia que a estrutura do metal  seria compacta e teria suas moléculas  com a orientação correta (para maior resistência mecânica).
Os “HB Fix” foram lançados em 1990 e possuíam uma incrivelmente resistente barra rígida unindo os cames. Para não infringir a patente do Ray Jardine, o gatilho foi completamente redesenhado: dois gatilhos separados operavam cada um o seu par de cames.  A patente foi concedida em 3 de Janeiro de 1991.
Hugh Banner trabalhou ativamente com sua esposa Maureen, até a sua morte, em 2007 (veja seu obituário em inglês em  http://www.independent.co.uk/news/obituaries/hugh-banner-447540.html )
Todavia, um escalador de Durango, Colorado, estava convicto que a melhor proteção requeria pelo menos quatro cames, e continuou a pensar nisso. Em 1986, Daid Waggnoner iniciou sua empresa, a “Colorado Custom Hardware” e começou a fabricar seus “Trigger Cams”.  A inovação ficava por conta das molas que posicionavam-se entre os dois lados da barra rígida. Posteriormente ele inventava o “Cable Pro”, com patente de 11 de agosto de 1987.  Como o nome diz, era um Friend de cabo flexível e a inovação era que o cabo de aço era recoberto por um pedaço de plástico, protegendo o cabo de aço da abrasão com a rocha.
Finalmente o David Waggoner teve uma inspiração genial e inventou a colocação das molas dentro de cada came, montando assim o Friend mais estreito de 4 cames no mundo. Ele patentou essa invenção em 2 de dezembro de 1988 e como resultado dessas duas brilhantes idéias foi criado posteriormente o “Alien”, um sofisticado mecanismo que em nada parecia com o primitivo “Trigger Cam”.
Com um PhD em Engenharia Mecânica pela UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles) e um verdadeiro inventor como profissão, Tony Christianson especializou-se em montar sistemas de suporte da vida para o mergulho e escalada. Alguns anos antes ele havia se encontrado com Yvon Chounaird, dona da famosa empresa californiana “Chounaird Equipament” (atualmente conhecida como “Black Diamond”) e ele tentou convencer o Yvon Chounaird a conhecer sua versão de Friend. O Chounaird educamente recusou e disse que não estava interessado em nenhuma idéia  que ele tivesse para proteção baseadas em cames.
A verdade era que o Yvon Chounaird  estava direcionando todo o seu poderio para desenvolver o seu próprio Friend, mas antes que isso acontecesse, o Tony Christianson voltou para sua prancheta de desenhos e gastou vários meses antes de ver uma luz no fim do túnel: utilizar dois eixos paralelos aumentavam consideravelmente a capacidade de expansão do mecanismo.
Quando Tony Christianson voltou à empresa do Yvon Chounaird com seu protótipo foi recebido com champagne…
Na empresa do Chounaird nem tudo eram maravilhas, muitos protótipos foram feitos e testados em campo. Tony Christianson protegia sua invenção registrando a patente em 26 de setembro de 1985.
Duas molas guiadas pelas pernas de um cabo flexível de aço em formato de “U” foram refinadas pelos engenheiros Julio Varela e Honk Kyu Kwak e encontraram a melhor forma de construir um mecanismo de cames  com torção das molas. O nome do novo mecanismo foi resultado de várias sugestões dos funcionários da Chounaird Equipament e finalmente  o “Camalot” era lançado ao mercado em setembro de 1987. Dezesseis anos depois do surgimento dos primeiros “Hexentrics”.
Os primeiros modelos para fendas realmente grandes eram nada mais do que cópias agigantadas dos Friends, peças caseiras e mais ou menos confiáveis.
O primeiro fabricante a pensar seriamente no problema foi a C.C.H. que produziu o “Seismo”, um filho ilegítimo entre o Friend e o “Visse-Roc”: Feito com dois cames opostos e uma barra ajustável, ele aumentava a sua gama de aplicação através de várias extensões acopláveis e que podiam ser utilizadas em várias combinações. Obviamente que esse estranho mecanismo caiu no esquecimento.
Em 1984 Graig Luebben, mestre nas escalada “offwidth”, desenvolveu um novo conceito de proteção para fendas largas, sua tese na conclusão do curso de Engenharia Mecânica na Colorado State University, em Fort Collins, foi sobre esse seu novo mecanismo. Depois de sete protótipos realmente toscos, seu “Bigbro” estava pronto.
Feito com dois tubos capazes de deslizar um sobre o outro, o “Bigbro” expandia-se vigorosamente com um mola interna. Ele podia ser colocado em posição com uma única mão e era desenvolvido para uso em fendas paralelas. Seu nome teve origem em um livro clássico de 1984 escrito pelo George Orwell : “Big Brother is watching you” ( O grande irmão, em português… literatura obrigatória !). O tamanho 4 do “Bigbro” tinha quase 31cm de comprimento e era provavelmente o maior “nut” do mundo.
Nos Estados Unidos, em 1987, John Yates (da Yates Gear) e depois na Espanha, com Jaume Aregall (da Fixe) desenvolviam proteções para as fendas mais desafiadores. Ambos fabricantes adotaram o conceito bem estabelecido de quatro cames e nos tamanhos 5, 6 e  7 polegadas, o “Yates Big Dudes” era lançado com um cabo de aço flexível em formato “U”.  Só por diversão John Yates fabricou alguns poucos exemplares do seu “Big Dudes” na versão de 9 polegadas.
Com 7 diferentes tamanhos, a empresa espanhola (Catalã) “Fixe” lançou seus “Companyes” (Friends em catalão), reutilizando o conceito original de barra rígida dos primeiros Friends. Seu maior modelo servia em fendas de 27,5cm de largura e há uma edição especial que servia para fendas de inacreditáveis 35cm!
Esta retrospectiva tem que considerar ainda outra invenção americana dos anos 80: os “Samson” , inventado pelo Peter Taylor da “Coyote Mountain Works” foi provavelmente o único mecanismo de cames acionados por molas que eram feitos exclusivamente de compostos como fibra de vidro, carbono e nylon. Apesar de terem uma grande cobertura no tamanho da fendas, os “Samsons” tinham uma vida muito curta e os escaladores  se recusavam a usar peças de proteção feitas do mesmo material que seus dominós ou tênis…
O QUE PODEMOS ESPERAR PARA O FUTURO ?
Eu gostaria de mostrar algumas fotos dos BallNutz e ainda dos novos modelos da Black Diamond dos novos Camalot C3 (da Black Diamond) e C4… As peças pequenas são simplesmente lindas.
O acabamento é impecável e realmente não dá para encontrar “defeitos”… ou melhor… até dá ! Como são caros estes móveis !  Interessante é que a menor peça, o 000 da foto acima, equivale a um BallNutz #3…
Por último… na Black Diamond, a sigla “C” encontrada nas peças, tais como C3 ou C4, indica a quantidade de cames que o móvel possui.
Já estava quase esquecendo, há pouco tempo (em 2007 mais ou menos) , a Omega Pacific divulgou os seus “Links Cams”, que são uma nova revolução no mundo das protecões ativas : http://www.omegapac.com
Cames com ângulo constante de 13.5 graus, cames de tamanho variável, cabos cruzados…
É impressionante ver um brinquedo desses ao vivo… são caros (cerca de US$ 100,00 cada peça) e não podem sofrer esforços laterais (ou seja, para esse tipo de peça, a colocação é fundamental).
Em março de 2009 A Trango, fabricante dos espetaculres Ballnutz e do (no mínimo) interessante BigBro, realizou um “desafio” ou “competição” para escolher o “melhor Friend”  feito em casa.. ou seja, eles iriam  escolher a melhor proteção ativa feita de forma artesanal…
mas a coisa começou aqui :
Para finalizar, como disse originalmente, este artigo foi escrito pelo Sr. Stéphane Pennequim, e com sua permissão fiz uma tradução livre e acrescentei algumas fotos e textos de minha autoria.
No mais, como sempre, boas e seguras escaladas !
Davi Marski – outubro de 2009
em tempo, o artigo original está em :  http://www.needlesports.com/nutsmuseum/camsstory.htm




































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Sobre o autor

Davi Marski (In Memorian) Era guia de montanha e escalador em rocha e alta montanha (principalmente nos Andes) desde 1990. Além de guia de expedições comerciais, ele ministrava cursos de escalada em rocha. Segundo ele mesmo "sou apenas mais um cara que ama sentir o vento frio que desce das montanhas". Davi levava uma vida simples no interior de São Paulo e esforçava-se por poder estar e viver nas montanhas. Davi nos deixou no dia 19 de Novembro de 2014.

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