De 5 em 5 o montanhista enche o papo! Parte II

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Barraca armada, isolantes e sacos dentro, nos recolhemos pra que eu fizesse a janta. Alguém aqui também precisa comer certo? No cardápio o meu vício atual em montanha: Feijoada! He he he…Me provou ser uma boa refeição pra atividade, bastante calórica e repõe muito bem minhas energias. Edson não quis comer, ficou no seu tradicional bolo com iogurte.

Depois que me deitei não conseguia uma posição que diminuísse a dor no joelho, que inferno! A noite foi cruel…novamente algumas cochiladas perdidas, muita dor, muito vento na madrugada…Noite longa, noite longa…

Enfim começou a amanhecer. A dor diminuíra sei lá, uns 30%, mas ainda era muito forte. Levantamos e nos preparamos para assistir e registrar o nascimento do astro rei novamente! Foi o que fizemos Moisés, eu e Edson, logo atrás da primeira placa. O tapete de nuvens estava lindo demais, porém muito alto e isso fez com que quando o sol desse as caras já estaria muito forte…Não deu outra, nasceu forte demais já para as tradicionais fotos com show de cores. Mesmo assim conseguimos tirar algumas fotos bem bacanas!

Depois disso o Edson iria continuar o plano de seguir até o Agudo de Cotia, mas para mim terminava por ali a investida. Do jeito que minha perna estava, tentar descer a encosta do Ciririca seria suicídio. A montanha estará lá por muito mais tempo, decidi ficar no cume e tomar café com calma, descansar mais e me poupar para a longa descida. Aproveitei para assinar o caderno do cume, tirei mais algumas fotos do Agudo, das paisagens…
Julio e Bárbara só acordaram quase nove da manhã. O Edson descera por volta de 07:40h e então decidiram esperar por nós, já que eu não desceria sem o Edson.

Lentamente comi meu café da manhã, montei minha mochila, desmontei a barraca, coloquei algumas roupas ao sol…deixei tudo engatilhado para descermos tão logo o Edson chegasse. O tempo foi passando e nada, começamos a ficar preocupados com ele até que o Moisés conseguiu avista-lo voltando após subir na placa pra poder observar a trilha.

Ficamos mais tranqüilos e o Julio sugeriu que eu começasse a descer já que minha perna estava bem ruim com dor mais intensa na descida. Concordei já que o Edson estava a caminho e ele o esperaria junto do Moisés. Decidido assim, Bárbara e eu começamos a descer da montanha.

Um pouco mais à frente no cume do Ciririca o Julio nos alcançou. Só o Moisés ficou por lá esperando pelo Edson. Continuamos a descer ficando combinado que esperaríamos por eles no “última chance” por meia hora.

Lá chegamos sem muita correria, com calma, nos refrescamos com a água do rio, fizemos um lanche rápido, sempre nos divertindo com as piadas do Julio…ê figuraça kkkkkk

A essa altura a Bárbara me ofereceu um analgésico que tinha, disse que era bem forte e me ajudaria com a dor. Fazemos qualquer negócio para sair daquela dor e desfrutar da linda trilha de retorno pela parte “de baixo” com plenitude. Tomei um comprimido.

Esperamos por quarenta e cinco minutos e nada. Continuamos nosso caminho, a próxima parada combinada e ponto de espera definitiva seria a Cachoeira do Professor. Se a trilha que fizemos no dia anterior fosse como a da parte baixa, chegaríamos horas mais cedo…Que trilha agradável…Bem úmida o que reduz o calor, grande oferta de água, bem mais limpa de vegetação e as mochilas e braços arranhados agradecem…Claro, a vantagem da trilha por cima é o visual fantástico da serra, que é exuberante!

Chegamos na cachoeira e resolvi fazer um miojão pra repor um pouco da energia. Quando acendi o fogareiro o Edson e o Moisés chegaram. Agora todos reunidos, descansamos ali um pouco, uma subida forte nos esperava pela frente.

Lá vamos nós de novo. Subida forte mas agradável, e pelo simples fato de ser subida não me causava dor na perna. Essa hora o analgésico também já fizera efeito e a dor estava bastante suportável até mesmo em descidas. Tocamos bem o caminho.

Fomos alcançados nessa subida por um conhecido do Edson e do resto do pessoal, tornou-se o sexto membro da aventura por alguns minutos. Quando chegamos a bifurcação para o camapuan ele se despediu de todos e se adiantou pela trilha.

Ainda levamos algum tempo pra chegar na fazenda, e quando vimos aquele gramado onde começa a trilha já era noite. A solução foi sentar nas pedras, pedir refrigerantes e coxinhas e bater papo. Cada caloria era uma explosão de felicidade dentro do corpo de cada um de nós, aposto! Mas para mim, tinha todo um sabor delicioso de vitória. Afinal de contas, agüentei toda aquela dor infernal que só eu sei como foi, e mesmo assim não desisti da montanha, sempre com o apoio do Edson na subida, e com o apoio de todos na descida.

Enquanto Bárbara e Moisés trocavam o pneu do carro dela, eu e Edson comíamos. Depois de resolvido o problema fome e o problema pneu furado, Julio, Edson e eu fomos andando pela estrada pra que o peso no carro fosse aliviado, facilitando assim o primeiro trecho da estradinha que é bem ruinzinho. Bem, Julio e Edson andavam, eu me arrastava. O efeito do remédio já era, é descida, e ao chegar na fazenda o psicológico meio que pensa “não acredito, consegui, trouxe esse pedaço de carne preguiçoso até aqui, agora posso descansar!” e por isso o corpo relaxa, o gasto de energia é tremendo então é normal ficar mais sensitivo a frio e condições de cansaço depois de sei lá, uns 40km de caminhada somando a subida e a descida.

Por causa disso a dor estava quase insuportável na caminhada na estradinha, mas não falei nada pra não perturbar os dois que comentavam sobre algumas montanhas da região. Agüentei firme até chegarmos no carro, quando pude desabar sentado…he he he

E foi assim que toda a aventura teve um final feliz, com mais algumas parcderias estabelecidas, mais montanhas lindas visitadas, e mais algumas centenas de fotos!

Ah sim, faltou explicar o título do relato: De cinco em cinco porque na última investida eu e Edson fizemos seis cumes sendo que um deles nem contamos que é o platô de Monte Verde. Não chega a ser uma montanha. Portanto ficaram na lista de visitas a Pedra Redonda, a Pedra Partida, o Pico Chapéu do Bispo, o Pico do Selado e o Pico das três Pedras (nome que demos a montanha). Nesse final de semana muito longe de ser fácil como Monte Verde, os cumes visitados foram Camapuan, Tucum, Cerro Verde, Pico Luar e o misterioso Pico Ciririca (Parofes para por aqui), sendo que para o Edson foram seis, já que ele foi até o Agudo de Cotia! Ae Japa parabéns cara, montanha para poucos!

O RETORNO:

Julio nos deixou na rodoviária de Curitiba por volta de 19:30h. Nos despedimos e imundos, fedorentos e com dezenas de lesões fomos ao guichê da Itapemirim e compramos as passagens para retorno a São Paulo pro horário de 22:00h.

Lanchonete, lanche, bebida, satisfação, felicidade. Sentamos e ficamos curtindo as fotos para as horas passarem. Quando a hora chegou embarcamos e fomos embora. Edson literalmente saiu da tomada e desmaiou de sono, eu também dormi mas um pouco desconfortável por causa do joelho que ainda doía barbaridades…Não consegui apagar por completo.

Lá pelas onze e alguma coisa ouvi um barulho de impacto, estilhaços, mas como o ônibus continuou andando não dei muita atenção, pensei que tivesse sido alguma coisa que aconteceu com algum carro vizinho pois na madrugada o som se propaga muito mais facilmente. Entretanto, depois de uns cinco minutos e 4 ou 5 kms a frente o motorista parou e comunicou a todos que alguém na estrada havia atirado uma pedra contra o ônibus, e por isso teríamos que aguardar a troca de veículo e o Boletim de Ocorrência. Aquilo não era uma pedra, era um pedaço de concreto que deveria ter pelo menos 1 kg! Por sorte atingiu o primeiro assento e nenhum passageiro estava ali.

Não sei ao certo, mas acredito que isso seja tática de ladrões de estrada para que o motorista pare e seja rendido…Felizmente ele só parou alguns quilômetros depois e se era uma tentativa de assalto, provavelmente foi frustrada com essa atitude.

Só faltava essa…Ficamos parados por 90 minutos ali até que toda burocracia foi cumprida e a troca de carro foi feita para seguirmos viagem.

Eu não dormi quase nada, não tinha posição que diminuísse a dor no joelho e só dei alguns cochilos até que as cinco da manhã despertei de vez e fiquei acordado desejando um banho e uma pomada salompas pra perna. Chegamos na Tietê já tarde, sete da manhã! Pegamos o metrô e fomos contaminando o ar juntos até a Sé. Lá o Edson desceu. Eu ainda causei náuseas aos outros passageiros até a Conceição.

Quando cheguei em casa joguei tudo no chão, tirei a roupa e mais mato caiu, a meia cheirava a queijo, o suvaco a peixe podre, e o cabelo a mato molhado. Tomei um banho e depois dele provavelmente perdi mais meio quilo só de sujeira. Me vesti e fui trabalhar!

Fica aqui um forte abraço ao Julio Fiori que topou a investida conosco no mesmo dia de nossa partida, Moises Lima e Bárbara pelo mesmo motivo, e por serem companhias tão agradáveis durante a pernada. Valeu pessoal, foi um imenso prazer conhece-los e estar em uma das montanhas mais difíceis do Paraná com vocês!

O joelho? Já está quase zero bala. Dá pra acreditar? Risos…

:: Leia a primeira parte

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Sobre o autor

Parofes, Paulo Roberto Felipe Schmidt (In Memorian) era nascido no Rio, mas morava em São Paulo desde 2007, Historiador por formação. Praticava montanhismo há 8 anos e sua predileção é por montanhas nacionais e montanhas de altitude pouco visitadas, remotas e de difícil acesso. A maior experiência é em montanhas de 5000 metros a 6000 metros nos andes atacameños, norte do Chile, cuja ascensão é realizada por trekking de altitude. Dentre as conquistas pessoais se destaca a primeira escalada brasileira ao vulcão Aucanquilcha de 6.176 metros e a primeira escalada brasileira em solitário do vulcão ativo San Pedro de 6.145 metros, próximo a vila de Ollague. Também se destaca a escalada do vulcão Licancabur de 5.920 metros e vulcão Sairecabur de 6000 metros. Parofes nos deixou no dia 10 de maio de 2014.

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