O Elefante do ABC

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Juntinha a apenas 33km da capital paulistana, a pacata Ribeirão Pires detém um atrativo q além de ser o pto turistico mais alto, é um dos q proporciona a melhor vista da região. Próximo à divisa com Suzano, o Morro da Pedra do Elefante é um pequeno serrote doméstico coroado com uma imponente formação granítica cujo formato lembra o desajeitado e simpático paquiderme. Situada a mil metros de altitude e acessível mediante trilha leve, o local tb é utilizado para pratica de escalada e rapel, além de ser mais uma ótima opção natureba pruma manhã de domingo ensolarado numa montanha de facílimo acesso. E o melhor, não demandar dificuldade técnica alguma apesar do desnível vencido não ir além dos 200m.


Foi conversando na minha ultima andança com um guia de São Bernardo, o Nei Rodrigues, q soube deste pico q até então desconhecia, embora seja um “point” bem conhecido em Ribeirão Pires. Francamente, pra mim a cidade não passava de mero pto de passagem pra Paranapiacaba. Até agora, pelo jeito. Assim, após coletar infos avulsas na net e sem mais nada programado pra fazer resolvi dar uma conferida nessa tal Pedra do Elefante. Ciente de antemão de q o programa não seria perrengoso e sim um legitimo “passeio no bosque”,&nbsp, aproveitei&nbsp, a deixa pra chamar uma velha amiga q a tempos me pedia pra avisá-la de alguma trip sussa, a Roberta.

Dessa forma despretensiosa, as 8hrs desembarcamos do trem na pacata Ribeirão Pires q recém-acordava pra mais um dia de labuta. O friozinho matinal era levemente confrontado com os acolhedores e bem-vindos raios do Astro-Rei, q anunciavam mais um dia de céu azul e tempo bom. Nos dirigimos ao Terminal Rodoviário, situado ao lado da estação, onde embarcamos imediatamente no circular “Vila Bonita”, de horários bastante regulares. Aqui pedi ao cobrador nos avisar a hora q o coletivo passasse por um tal de “Rodeio Amarelinho”, pto de referencia pra saltar do latão, situado no Bairro Quarta Divisão. Alias, o ribeirão q intitula a cidade, o Ribeirão dos Pires, nasce na encosta entre a Quarta Divisão e o bairro de Ouro Fino, corta td a cidade e é um dos formadores da Represa Billings.

A agradável viagem no busão transcorreu sem maiores intercedências, e entre uma conversa e outra apreciávamos o bucólico visual emoldurado pela janela. A medida q deixávamos a cidade e tomamos a Estrada de Sapopemba, o cinza da horizontalidade das construções do centro de Ribeirão Pires deu&nbsp, lugar ao verde da mata da morraria ao redor. Em tempo, a Estrada de Sapopemba somada à avenida do mesmo nome formam a maior avenida do Brasil, com cerca de 45km de extensão, ligando o bairro da Água Rasa (SP) ao Jd Petropolis, em Ribeirão Pires, passando por Mauá.

Sempre pela estrada, o latão eventualmente desviava pra rodar pequenos bairros encravados em meio a morraria, pra depois voltar à estrada principal. Foi ali q já foi possível avistar o serrote q pretendíamos alcançar, destoando elegantemente dos morros ao norte e coroado por uma enorme “barbatana” rochosa q se elevava acima do arvoredo ao redor.

Assim, após quase um pouco mais de meia hora no coletivo saltamos no pto em frente ao tal “Cto Hipico Amarelinho”, q nada mais é um “point” local, misto de casa de shows, espaço “country” e clube de campo. Daqui basta simplesmente descer o asfalto da principal via do bairro, a Av. Miro Attilio Peduzzi&nbsp, à altura do numero 900. A 10km do centro, o tranqüilo Bairro Quarta Divisão guarda um aconchegante e irresistível clima interiorano e ganha este nome pq é cortado por&nbsp, uma das divisões (a quarta, lógico!) do extenso sistema Rio Claro de abastecimento de água, traduzida na linha de adutoras e aqueodutos (“Trilha dos Tubos”!!) perfurando a morraria aqui e acolá. Apesar de tudo isto o bairro carece de alguma infra estrutura, tal qual qq bairro rural, e prova disso é q celular não pega.

Após passar por uma simpática igrejinha deixamos o asfalto em favor de uma pequena viela de paralelepípedos à direita, a Rua Malvina Tavares, q logo se desfaz na mais pura terra. Aqui já não temos duvida de q estamos no sentido correto, uma vez q igualmente surge uma placa indicando o sentido do nosso destino. Subindo suave e lentamente, notamos q ladeamos este inicio de encosta serrana, q aqui se vê forrada de reflorestamento de eucaliptos. Assim o caminho nos leva ao q parece ser o colo do abaulado serrote. Contudo, logo adiante surge uma bifurcação sem placa, mas o sentido a seguir é meio q óbvio, isto é, pra cima e não pra baixo, ramo sugerido pela esquerda e q provavelmente deve dar noutro extremo do bairro.

Começa então uma ascensão inicialmente suave mas q se torna acentuada a medida q avançamos crista acima, rodeados de muita vegetação secundaria com resquícios de primaria. A estrada dá lugar a uma larga e erodida “trilha” q se encontra bem degradada devido as chuvas constantes e à presença de motoqueiros e jipeiros q eventualmente encaram a dita cuja. Muito barro e argila compacta-lisa feito sabão redobram nosso cuidado, assim como a atenção em desviar dos enormes buracos, degraus e valas pois o risco de rolar ribanceira abaixo é constante.

Mas após um tempo a íngreme subida arrefece e se torna uma agradável vereda forrada de folhas, pra alegria da Roberta q já arrasta a língua no chão em virtude do seu descondicionamento. Este trecho é mto bonito pq a crista é fartamente florestada, o sol penetra pela copa do arvoredo timidamente e os sons da mata abundam em vários cantos de pássaros. Uma trilha batida (à direita) no caminho desperta minha atenção e me faz dar uma rapida conferida, pra apenas constatar minhas suspeitas de q é rota q desce a serra. Memorizei a entrada da trilha pois será ela q tomaremos na volta.

A pernada prossegue no mesmo ritmo onde as vezes a mata e voçorocas de bambus ameaçam invadir a trilha, mas esta logo se alarga novamente mais adiante. A Roberta engata a reduzida e continua a subir, determinada. Ao ganhar enfim o alto da serra emergimos no aberto, já marcado por um enorme bloco de granito à esquerda, onde o caminho aparentemente percorre o restante da abaulada serra.

Descemos um pouco pra outra vez ganhar altura ate finalmente mergulhar no ultimo e curto cinturão de mata e desembocar numa enorme clareira onde erguia-se o imponente bloco de granito q atende pelo nome de Pedra do Elefante. Mas tem mesmo formato do torpe paquiderme? Bem, após analise detalhada é possível enxergar algo similar a isso, embora deva se deixar a imaginação trabalhar ou estar sob efeito de algum psicotrópico poderoso uma vez q eu achei a pedra mais parecida com a proa de um navio. Só assim pra vislumbrar algum formato zoomórfico iluminado nos contornos rochosos daquele colosso no alto da colina. Apesar disso a vista dali é fantástica, e além de permitir um olhar privilegiado de algumas cidades vizinhas tb dá a idéia de novas rotas através dos contrafortes desse modesto serrote.

Pois bem, havíamos chegado ali as 9:45 o q realmente significa ser uma pedra de ascensão fácil e rápida. Sendo assim é natural, infelizmente, q existam tb “inscrições burrestres”, facilmente encontradas ao largo de td parede de granito. A pedra principal esta cercada por outras menores, mas não menos majestosas. A presença de grampos fincados na rocha atesta a pratica de rapel e escalada pra auxiliar a subida ao alto do enorme monólito. Nos bem q tentamos e acredito q até daria pra subir a pedra, com algum esforço, se firmando bem nas pequenas agarras, saliências na pedra e até os grampões ali dispostos. “Subir parece fácil, difícil mesmo deve ser descer esses quase mais de 5m verticais!”, completou Roberta. Abortamos a idéia, claro.

Recordo q o próprio Nei (em tempo, da Ecocultural Viagens) havia me dito q o pessoal subia a pedra de forma artesanal e rústica, de forma arriscada, e ai ele grampeou a pedra de modo pro pessoal subi-la com mais segurança. Com direito a rapel negativo de quase 25m!

Com tempo mais q sobrando, nos empoleiramos na pequena rocha q antecede a principal e desfrutamos um delicioso lanche seguido de um revigorante relax. A superfície da pedra adaptou-se cômoda e anatomicamente às costas e quadril, o q prolongou nosso descanso alem do previsto. Ficamos então um tempão lagarteando ao sol, com direito a cochilo, à mercê daquele friozinho matinal.

Retomamos a marcha as 11hrs, refazendo td caminho da volta. Contudo, pra não retornar pelo mesmo caminho tomamos a trilha vista durante a subida. “Olha lá onde ce vai me meter, ce não conhece esse caminho!”, titubeou Roberta, quiçá temendo sua integridade física na possibilidade de mais uma roubada à vista. Mas consegui tranqüiliza-la afirmando de q ali não tinha erro, pois sendo flanco sul do serrote e a trilha agora descendo forte fatalmente daríamos em pouco tempo no sopé do morro, quiçá no quintal de alguma casa.
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Mergulhamos então no frescor da mata fechada pra inicialmente atravessar touceiras de bambus cruzando a vereda e outra mata invadindo o caminho. Passado este trecho a trilha embica morro abaixo inipterruptamente, as vezes ziguezagueando de forma suave a encosta. Indícios deixam claro q a vereda já fora uma estrada outrora, agora parcialmente tomada pela mata e utilizada pelos habitantes do bairro como meio mais fácil e rápido de atingir o alto da serra, ou cruzar o morro sentido outros bairros rurais.

Apesar de óbvia o cuidado com a picada é em relação à aderência do calçado, pois uma camada de limo esverdeado e escorregadio toma conta de boa parte de sua superfície. Bastaram algumas patinadas no mais legitimo sabão pra q percebêssemos isso.

Surgem algumas bifurcações mas a gente permanece no ramo q fosse no sentido desejado, isto é, pro sul e sempre morro abaixo. No trecho final surgem “atalhos” q cortam os últimos ziguezagues da trilha, assim como frestas na vegetação e latidos vindos de algum canto apenas corroboram estarmos no caminho certo.

Conforme o previsto, acabamos caindo no quintal da vários casebres esparsos no sopé do morro em bem menos tempo q o tempo de subida, ou seja, as 11:45. Cortando uma vielinha estreita logo desembocamos numa rua, já quase à frente do tal Rodeio Amarelinho!!! Pois bem, como ainda passamos batido o pto de bus no qual havíamos desembarcado e descemos a rua, indo de encontro ao cto do bairro à procura de algum boteco. Não andamos nem um quarteirão e estacionamos no Bar do Miguel, onde passamos o horário do almoço regado a cervejas e salgados.&nbsp,

Um vira-lata encostou na gente com cara de coitado, mas infelizmente ficou só olhando na vontade. Mas não foi somente ele, já q depois de um tempo um bebum local, o Luciano, tb encarnou na gente e inicialmente até foi bem recebido ao nos contar suas lorotas e nos brindar inclusive com um repertorio de musicas dos 80. Mas depois tornou-se bastante inconveniente ao não sair da nossa aba – de olho em nossa mesa – e até a dar uma de galã pra cima da Roberta. Isso bastou pra adiantar nossa saída dali. Portanto fica a lição: “Nunca dê trela pra qq bebum.”

Mais q satisfeitos, bastou cruzar a rua e nos prostar no pto e tomar de volta o mesmo coletivo no qual havíamos chegado, q passava de meia em meia hora agora com o nome de “Ribeirão Pires – Centro”. Uma vez no terminal, embarcar no trem de volta foi um piscar de olhos, pra assim retornar à paulicéia de modo a aproveitar ainda o restante do dia.

Quem sabe este relato desperte a curiosidade dos leitores em conhecer Ribeirão Pires, uma vez q o local tb tem como atrativos uma enorme&nbsp, gruta de calcário, uma ONG com o pitoresco nome de “Clube dos Vira-Latas” e até um legítimo castelo medieval, construção inspirada em monumentos europeus. Mas em se tratando de aventura, a Pedra do Elefante é mais uma boa e facílima opção de caminhada pra uma manha ensolarada.

Há a opção de esticar o programa pras demais trilhas espalhadas ao longo do serrote, q provavelmente devem ser melhor aproveitadas por bikers. Inclusive uma variante saindo do distrito de Ouro Fino até o Bairro Quarta Divisão, via Estrada da Sondália. Assim a Pedra do Elefante se inclui no rol de pequenas montanhas próximas à urbe, pouco conhecidas e de fácil acesso, assim como o Morro Saboó, a Pedra Esplanada, o Garrafão, o Pico do Gavião, a Pedra do Lagarto, o Pico do Urubu, a Pedra do Sapo e tantos outros q ainda serão descortinados por ai.

Textos &amp, fotos de Jorge Soto
http://www.brasilvertical.com.br/antigo/l_trek.html
http://jorgebeer.multiply.com/photos
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Sobre o autor

Jorge Soto é mochileiro, trilheiro e montanhista desde 1993. Natural de Santiago, Chile, reside atualmente em São Paulo. Designer e ilustrador por profissão, ele adora trilhar por lugares inusitados bem próximos da urbe e disponibilizar as informações á comunidade outdoor.

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