Natal em Rodes

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A ilha de Rodes é a maior entre as que formam a região grega do Dodecaneso, onde está também a ilha de Kalymnos, um dos paraísos da escalada em rocha.

A cidade de Rodes, com o mesmo nome da ilha, é mundialmente famosa por ter abrigado uma das sete maravilhas, o Colosso de Rodes. Destino de milhares de turistas todo o ano, Rodes é recheada de história e possui a maior cidade medieval habitada da Europa onde, no passado, viviam os cavaleiros. Além dos diversos sítios arqueológicos espalhados por toda a ilha, paisagens de tirar o fôlego e praias, Rodes oferece alguns setores de escalada.

A aventura começou dias antes da ida para Rodes, quando fui acessar o site rock climbing in rodos greece e descobri que estava fora do ar. Antes que o arrependimento por não ter salvado o conteúdo do site na primeira vez que o visitei tomasse conta, tentei recuperar o site em algum cache. Consegui recuperar quase 100% do site, exceto por algumas figuras, usando o Warrick, uma interface para o archive.org.

Tendo encontrado as informações necessárias para chegar aos setores de escalada, a aventura continuou na hora de fazer as malas. Íamos eu e minha esposa, cada um com direito a 12,5 kg de bagagem. Sem disposição nenhuma a pagar 3 euros por cada kilo excedente, começamos os cortes. Reduzi o equipamento ao mínimo tirando todos os sacos de pano que uso para organizar o equipamento e também o saco de cordas. Levei 8 costuras (contra 10-12 indicadas no site), dois mosquetões Pêra, um ATC, 4 fitas, um cordelete, duas cadeirinhas, dois capacetes, um par de sapatilhas, saco de magnésio, quatro mosquetões de rosca, a corda (70 m x 10,2mm, que sozinha pesa 5 kg) e a mochila. Talvez ainda tenha levado muito equipamento, mas fechou 11 kg de equipo. Os outros 14 kg de roupas e acessórios também precisaram de cortes, a maioria deles sem aprovação da Anamaria.

Saímos de Chaniá para Heráklio de carro por volta de 5h45 do dia 22/12/2008, segunda-feira, sob forte chuva, raios e trovões. No aeroporto de Heráklio soubemos que desperdiçamos 100 gramas de espaço na bagagem e a seguir conhecemos o teco-teco que nos levaria para Rodes. Uma lata de sardinhas para cerca de 20 pessoas, um pouco maior que uma Van – impossível não ficar nervoso. Apesar do mau tempo o vôo foi bom e durante toda a viagem pudemos acompanhar o trabalho dos pilotos, já que a cabine ficou aberta durante todo o trajeto.

A chuva da chegada durou apenas um dia e desapareceu empurrada por ventos fortes do Norte que trouxeram o sol e também temperaturas baixas. Os três primeiros dias foram dedicados ao turismo e visitamos os principais sítios arqueológicos e paisagens da ilha. O tempo claro permitiu ver montanhas nevadas na vizinha Turquia e também belas paisagens por toda a ilha. No terceiro dia passamos rapidamente por Siana onde está um dos setores de escalada de Rodes. A parede é bastante bonita e está dentro da vila, separada das casas por oliveiras e pinheiros. Não fui ver a parede de perto, mas ela conta com cerca de nove vias, do VI ao VIII grau, equipadas com recursos da Associação Hoteleira de Rodes.

O quarto e último dia foi, para mim, o mais esperado. Ainda em fase de recuperação de uma ceia de Natal farta em uma taverna tipicamente grega, acordamos cedo no dia de Natal e aproveitamos o sol para fazer umas fotos das muralhas da cidade antiga. Na sequência nos dirigimos para a baía de Ladiko, cerca de 16 km a sudeste de Rhodes. Este deve ser o principal setor de Rodes, com o maior número de vias e está divido em quatro pequenos setores. As instruções de como chegar foram precisas, apesar de uma das placas usadas como referência estar quebrada. De fato, o site parece bastante desatualizado pois o número de vias em Ladiko é maior do que indica o site. Paramos o carro no final de uma estrada de terra e seguimos caminhando por uma trilha bem marcada, provavelmente também usada por turistas e pastores. Em poucos minutos vimos o primeiro setor do qual não me aproximei pois oferecia apenas uma via de VI e as outras 12 com graduação mais elevada e eu queria vias mais fáceis.

De lá já podíamos ver uma caverna grande e outra parede que abriga as vias mais fáceis. Seguindo em direção a elas, aparece repentinamente a caverna pequena que conta com duas vias. Não resisti à tentação e brinquei um pouco no início de uma das vias. Depois do aquecimento tocamos para o setor com as vias fáceis. Todas as vias são identificadas com os nomes pintados na base. Contei quatorze ao todo, contra oito indicadas no site. Bem grampeadas, terminam em correntes e algumas possuem próxima a base uma chapeleta para o segurança se ancorar. Dezesseis vias do setor foram abertas com patrocínio de um hotel.

Seduzido pela caverna um pouco mais acima, segui o caminho pedregoso para conhecê-la e tentar a primeira via no setor, a Fournos, um VIsup. Meu desdém pela graduação da via logo me derrubou, não estava preparado para escalar um negativo e desisti desescalando enquanto meus braços tijolados ainda permitiam. Escalei outras duas vias de V e Vsup no setor de baixo e ambas tinham apenas sete proteções, ufa! Ambas começam com um rampão e depois continuam na vertical rica em agarras e com o crux em lance negativo. O rocha é um calcário bem cortante e abrasivo semelhante ao encontrado em Plakiás e outras regiões de Creta. A novidade portanto foram as caverninhas, muito semelhante ao que vemos nas fotos de Kalymnos, bastante lisas em alguns pontos e com estalactites.

Já cansados e com fome voltamos para o carro para fazer um lanche e seguir o passeio. No caminho de volta passamos rapidamente por outro setor de escalada em Kalithéa. Próxima à estrada em um descampado junto à algumas oliveiras, uma pequena formação rochosa oferece diversos problemas de boulder em paredinhas negativas e com bastante agarras. O curioso foi chegar e ver mais uma vez a numeração dos boulders (como as vias aqui em Chaniá) e também pontos azuis marcando as agarras dos problemas. Tentei alguns e fiz algumas fotos antes de seguir adiante. Próximo à área turística de Kalithéa, o lugar parece ser frequentado por campistas e festeiros durante o verão, dada quantidade de garrafas e latas de cerveja e lixo em geral na área de escalada, uma pena.

Por fim passamos rapidamente no setor do vilarejo de Kóskinou e só fotografei a pequena parede que oferece poucas vias a serem escaladas em top-rope. Como acontece em todo o lugar, casas foram construídas na base da pedra, dificultando o acesso.

Faltou conhecer o setor de Gadouras um pouco mais longe que só oferece três vias de grau elevado, mas de acordo com o site é uma bela paisagem com um pequeno rio próximo às vias.

Andamos por vários lugares de Rhodes e é difícil de acreditar que já não existam mais setores e mais vias dada a quantidade de pedras na ilha. O site parece bastante desatualizado, sendo que há pelo menos mais 6 vias em Ladiko não listadas. Entrei em contato com o autor para informar que estava fora do ar e até ofereci hospedar o site. Ele respondeu rapidamente dizendo que iria contatar o administrador do servidor, mas até agora o site continua fora do ar.

Na noite do dia 25, empacotamos de novo toda as bagagem e no dia seguinte voltamos para Creta com o mesmo avião e a mesma tripulação em mais um vôo emocionante.

Para quem gosta de história e praias (no verão, é claro) Rhodes vale à pena, e se gosta de escalada, ainda quebra um galho muito bom.

Para saber mais, visite o blog&nbsp, ´Escaladas em Creta e Alhures´

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