Portais de Hércules, as portas do paraíso na Serra dos Órgãos

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Conheça um dos locais mais impactantes da cadeia de montanhas que encanta gente do mundo inteiro

Dizer que a Serra dos Órgãos é linda e impressionante é quase pleonasmo. Afinal de contas, essa cadeia de montanhas tem formações rochosas únicas como Dedo de Deus, Agulha do Diabo, Nariz e Verruga do Frade, entre tantas outras que atraem gente de todo o mundo para os municípios onde ela está localizada. Agora, tem um lugar que, sem sombra de dúvidas, é digno de todos os elogios, mesmo que pareçam redundantes. Estou falando dos Portais de Hércules, um local no “meio” da Travessia Petrópolis x Teresópolis e de onde se tem a vista mais impactante da Serra dos Órgãos. Um lugar daqueles que, mesmo que você não seja habitual a fazê-lo, dá vontade de soltar um palavrão daqueles (mais pela sua força do que pelo seu sentido). E foi o que eu fiz recentemente, de tanta felicidade e encantamento quando finalmente conheci as verdadeiras “portas do paraíso” desse lugar que frequento há tanto tempo.
 
Como já disse aqui em outras oportunidades, apesar de quase 20 anos de montanhismo, os compromissos particulares ou com o clube do qual faço parte, entre outras “correrias diárias”, acabaram me fazendo adiar projetos de caminhada ou escalada, mesmo em locais relativamente próximos. Um desses passeios que foram sendo remarcados, sendo substituídos por outros às vezes até menos interessantes, mas que valiam a pena por conta das companhias ou oportunidades, foi conhecer os Portais de Hércules.
 
Mas, a cada fim de temporada, me cobrava por não ver com meus próprios olhos lugar tão elogiado e muito bem retratado em lindas fotografias, como as feitas pelo grande montanhista e fotógrafo Waldyr Neto, de Petrópolis. Então, na última, prometi que “desse ano não passava”. Afinal de contas, já havia chegado tão perto dele várias vezes, na travessia entre os dois principais municípios onde está localizado o PARNASO, e não havia “dado uma chegadinha lá”.
 
Parceria e caminho
 
Nessa empreitada contei com a ajuda de um amigo que fiz nas trilhas, Ramon Pagio, do Centro Excursionista Teresopolitano. O tenista-montanhista me apresentou o trecho final da trilha que leva até os Portais, feita por vários lajedos a partir do Morro do Marco. Mas, vamos ao início da aventura antes de relatar o “auge da caminhada”.
 
Como citei no começo, tecnicamente esse atrativo fica no “meio” da famosa Travessia Petrópolis x Teresópolis. Dessa forma, pode ser visitado por quem está fazendo a trilha que liga os dois municípios ou ir somente até eles por um lado ou outro. Porém, o mais comum e mais fácil (ou menos difícil) é pela terra de Pedro. Pela cidade de Teresa, são aproximadamente 15 quilômetros a mais. Dessa forma, optamos em seguir pela portaria do Bonfim.
 
Por Petrópolis, são aproximadamente 22 quilômetros de aventura (ida e volta!). Morro do Queijo, Ajax, Isabeloca, Chapadão do Açu, Morro do Açu… Vamos passando por todos esses atrativos da Petrô x Terê. E o dia estava bonito demais, azul, de poucas nuvens no céu. Por isso, encontramos bastante gente na trilha.
 
Vendo o mundo de cima
 
A partir do Chapadão do Açu, a vista fica ainda mais bonita. O Rio de Janeiro e seus atrativos como Pão de Açúcar, Pedra da Gávea e Baía da Guanabara não parecem tão longe assim. Olhando para Petrópolis, formações rochosas imponentes se destacam no horizonte, como a Maria Comprida e o Alcobaça. Já nos Castelos do Açu, a vista alcança a direção de Teresópolis e Nova Friburgo, da Pedra do Sino aos Três Picos.
 
Após passar pelo chalé construído pelo PARNASO alguns anos atrás, mais uma montanha para subir, o Morro do Marco. Nesse cume, já se tem a dimensão do que está por vir. Mas não se deve levar pelo encantamento com as belezas cênicas e esquecer a trilha, pois é a partir dali que a atenção deve ser redobrada. Saindo do caminho mais tradicional, se pega para a direita logo após o início da descida do Marco, onde há um grande totem onde as pedras estão fixadas por uma espécie de concreto.
 
Desse trecho em diante, muitos lajedos e muitos outros totens improvisados, que podem mais atrapalhar do que ajudar. E o caminho segue descendo, às vezes cruzando trechos de vegetação mais fechada, com o característico capim de altitude. Outro motivo para não ficar desatento é que, após cerca de 20 minutos de caminhada, você pode se deparar com um grande abismo. Mas ali ainda não é o objetivo final. É preciso voltar um pouco e pegar para a direita, atravessando um pequeno rio, para chegar na “ponta do abismo de verdade”.
 
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Já no trechinho final em direção aos Portais, a magia desse lugar começa a fazer efeito. Grandes paredões à volta, um ângulo diferente do Garrafão, Agulha do Diabo e São João… O vento gelado e o barulho de uma grande queda d´água descendo pelo imponente e verde vale. E quando finalmente a caminhada chega ao fim, já estando bem próximo a Coroa do Frade, é a tal hora de “soltar o palavrão”.
 
Quando finalmente concluímos a metade do nosso objetivo (lembre-se sempre que ainda falta a volta!), a dança das nuvens parecia querer atrapalhar esse desejo de tanto tempo… Mas, de repente, a Serra dos Órgãos se descortina maravilhosamente, de um ângulo majestoso e ainda pouco conhecido, estando “ao contrário” em relação à forma comumente divulgada. Do Garrafão ao Escalavrado, destacando-se Agulha do Diabo, Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora e outras formações rochosas que encantam os olhares e mexem com o coração de tanta gente… É bonito demais!
 
Faltam palavras para descrever a sensação que se tem desse lugar! É aquele tipo de coisa que não tem como explicar! “Veja com seus próprios olhos”, é o que posso dizer. Mesmo nesse tempo todo de montanhismo, já tendo no currículo Dedo, Agulha, Pico Maior, Itatiaia, entre tantos outros lugares fantásticos, confesso que só tive experiência parecida em Machu Picchu, Peru. Quando parei no lugar da vista mais clássica da cidade perdida, fiquei sem reação e alguns minutos parado apenas admirando e tentando entender tamanha grandiosidade.
 
E assim fiquei nos Portais de Hércules, um lugar quase místico. Além do diferenciado ângulo dos cumes que já visitei, a imponência da floresta pouco conhecida e quase inexplorada atrás dessa parte principal da cadeia, área intangível da unidade de conservação ambiental. Saí de lá já pensando em quando irei voltar, agora para ver o nascer do Sol nos portais do paraíso da Serra dos Órgãos.
 
 
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Sobre o autor

Marcello Medeiros é Biólogo e Jornalista, escrevendo sobre montanhismo e escalada desde 2003. Praticante de montanhismo desde 1998, foi Presidente do Centro Excursionista Teresopolitano (CET) entre 2007 e 2013.

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