Algumas Histórias dos Cânions

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Quando você viaja, ouve muitas histórias, que nem sempre cabem num texto objetivo sobre a natureza. Incluo aqui alguns relatos que achei interessantes.

A Torre do Funil, Bom Jardim da Serra, SC

O Perigo dos Cânions: Das muitas histórias sobre imprudências nos cânions, uma delas ocorreu no Itaimbezinho, quando um casal tentou atravessá-lo a partir do vértice, o que é proibido, sendo surpreendido por uma tromba d´água. Só foram resgatados três dias depois, exauridos, mas ainda vivos por terem podido subir numa rocha. Mas esta sorte não teve o rapaz que tentou rapelar até a Pedra do Segredo, que se equilibra numa pequena base no Cânion Fortaleza. Curta demais, a corda não o deixou chegar a seu destino – só foi encontrado meses depois, com seu esqueleto ainda tragicamente suspenso. Também não teve sorte o holandês que foi tragado pelas cachoeiras, ao tentar descer as traiçoeiras paredes do Malacara.

Pedra do Segredo no Cânion de Fortaleza, Cambará do Sul, RS

As Escaladas: Você deve estar curioso sobre a possibilidade de escaladas, em especial nas paredes dos cânions mais verticais. Estranhamente, não parece haver nenhuma via no Itaimbezinho, de todos o mais íngreme. Mas são conhecidas duas vias no Malacara, uma de 500m com grau VII e outra de 300m em móvel.  Este cânion é considerado muito difícil, devido à mais de uma dezena de cachoeiras que devem ser atravessadas. Em muitos dos cânions eventuais escaladas são interrompidas pela abundante vegetação.
A Bracatinga: Existe um mel de qualidade medicinal associado à bracatinga – árvore de casca escura e tronco retorcido, que habita os campos de cima da serra. Ela é precursora das matinhas nebulares, pois avança pelo capim, formando arbustos junto com as vassouras brancas. Na sua sombra crescem outras espécies, que se adensam no tempo em pequenas matas. Quando estas sobem, sua sombra acaba por matar a generosa bracatinga que lhes deu origem.

Cachoeira dos Venâncios, Cambará do Sul, RS

O Passo do S: Ao deixar Cambará do Sul, você pode visitar as bonitas Cachoeiras dos Venâncios. Continuando no sentido de Jaquirana, você atravessará o Rio Tainhas no emocionante Passo do S. Ele é assim chamado porque você pode cruzar o rio de carro se seguir com atenção um trajeto curvilíneo pelas lajes do seu leito. Nas cavalgadas de inverno, os gaúchos emparelham seus cavalos sinuosamente entre as duas margens, criando um visual muito bonito.

O Ardiloso Graxaim, RS

O Graxaim Carçado: Ao transitar por São José dos Ausentes, você verá placas se referindo ao Projeto Graxaim Carçado. Os graxains são raposinhas hábeis e ladras, que costumam furtar objetos das fazendas. Eu julgava haver um projeto para reproduzi-las ou protegê-las, mas na verdade as placas indicavam locais para pesca esportiva. Elas homenageiam o graxaim que um dia roubou as botas de um pescador e, dizem, sumiu calçado pelos campos e nunca mais foi achado.

O Desnível dos Rios, São José dos Ausentes, RS

O Desnível dos Rios: É em Ausentes que existe um curioso desnível de quase 20 metros entre dois rios que correm próximos e paralelos. Para enxergá-lo, você deve atravessar o Rio Silveira com água pelo joelho e subir até as margens do seu afluente Rio Divisa. Existem muitas cachoeiras nas proximidades, mas nenhuma tão bela como a do Perau Branco, com a rusticidade das rochas cavadas pelo rio, ao se precipitar para a densa floresta que lá em baixo recobre suas margens.

Passo do S, Jaquirana, RS

O Eremita: Talvez essas gargantas sejam locais que inspirem os eremitas, pois me lembro de um deles no cânion paranaense do Guartelá, cujo casebre achei dentro da mata. Em Morro Grande, onde fica o cânion Realengo, aconteceu a história de um homem que foi encontrado tendo vivido 12 anos isolado nos campos de cima – isso gerou um livro chamado O Prisioneiro da Montanha, mas não o li.
A Torre do Funil: Talvez o Cânion do Funil em Bom Jardim seja aquele com o visual mais dramático, devido à presença de formações escarpadas no seu interior. De todas, a mais impressionante é uma torre que sobe separada, bem no seu centro. Se você reparar com atenção, verá que nela existe uma abertura – nada menos do que uma caverna. Pois alpinistas conseguiram escalar a parede, apesar da rocha frágil e do acesso difícil, e passar um mês inteiro dentro dela.






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Sobre o autor

Nasci no Rio, vivo em São Paulo, mas meu lugar é em Minas. Fui casado algumas vezes e quase nunca fiquei solteiro. Meus três filhos vieram do primeiro casamento. Estudei engenharia e depois administração, e percebi que nenhuma delas seria o meu destino. Mas esta segunda carreira trouxe boa recompensa, então não a abandonei. Até que um dia, resultado do acaso e da curiosidade, encontrei na natureza a minha vocação. E, nela, de início principalmente as montanhas. Hoje, elas são acompanhadas por um grande interesse pelos ambientes naturais. Então, acho que me transformei naquela figura antiga e genérica do naturalista.

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