Impressionante nova rota no Gasherbrum I

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Segundo o adágio popular, “deve-se estar disposto a perder uma batalha a fim de ganhar a guerra”, ditado que se aplica com precisão à recente conquista tcheca nesta temporada de escaladas no Karakoram.

A FACE SUDOESTE DO GASHERBRUM I
A gigantesca, imponente e íngreme Face Sudoeste do Gasherbrum I (8068m) possui quase 2500 metros de desnível e apresenta trechos bem técnicos de escalada, além de ser perigosa, propensa a avalanches.
Pouco utilizada (a maior parte das vias e das escaladas no Gasherbrum I partem do norte e do oeste), a Face Sudoeste apresentava apenas três rotas até 2017: Rota Polonesa (de 1983), forjada pelos polacos Voytek Kurtyka e Jerzy Kukcuzka; Rota Eslovena (de 1977) e Rota Russa (de 2008), de Valery Babanov e Victor Afanasief.
O VISIONÁRIO
O tcheco Marek Holecek, de 42 anos, ficou obcecado por explorar essa vertente pouco utilizada do Gasherbrum I quando fez cume pela rota normal.
Particularmente, ele achou desafiador e interessante abrir uma via na parte mais à esquerda do flanco, nas encostas côncavas entre as rotas Polonesa (à direita) e Russa (que fica à esquerda).
AS BATALHAS
1ª Batalha (2009)
Em 2009, na companhia de Zdenek Hruby, tentou essa nova via em estilo alpino.
Após um início truncado, progrediram bem, estabelecendo bivaques aos 5700 metros, aos 6800 metros e aos 7400 metros.
No dia de ataque ao cume escalaram até 7500 metros, quota máxima atingida, quando Hruby apresentou problemas intestinais fortes diagnosticados como ruptura de úlcera gástrica. Segundo o escalador, “eu praticamente não conseguia me mover de tanta dor nem absorver água ou qualquer foram de comida”. Isso finalizou a primeira investida.
2ª Batalha (2013)
Alguns anos depois, a dupla retornou ao Gasherbrum I, mas a empreitada acabou em tragédia por volta dos 6800 metros, quando Zdenek Hruby veio a óbito.
Nas declarações de Holecek, “nos movemos para um glaciar abaixo da face. A previsão do tempo estava bastante favorável, então continuamos escalando. As partes mais baixas da rota estavam praticamente sem cobertura de gelo naquele ano e a neve estava em boas condições, então progredimos bem rápido. Atingimos a base do serac onde resolvemos fazer um bivaque. No início do dia seguinte, não sei bem o motivo, Zdenek perdeu o equilíbrio e caiu montanha abaixo, interrompendo sua queda um quilômetro montanha abaixo”. Tragédia na segunda batalha !
3ª Batalha (2015)
Dois anos depois, Holecek retornou, na companhia de seu compatriota Tomas Petrecek.
No segundo ataque ao cume, fizeram escalada magistral de 16 horas sem parar desde o campo-base até o C3 (7300 metros).
Todavia, devido a forte nevasca que chegou repentinamente, ficaram trancados nesse acampamento precário por oito dias e noites consecutivos (de 10 a 18 de agosto), até que puderam descer, apesar de o clima continuar instável. Foi uma escalada épica e uma descida eletrizante e assustadora. Fim da terceira batalha !
4ª Batalha (2016)
Com um novo companheiro de cordada, Ondra Mandula, novamente Marek Holecek retornou ao palco de suas obsessões alpinísticas.
Fizeram três ataques ao cume, os dois primeiros encerrando abaixo dos 7000 metros.
No terceiro, chegaram a 7700m, mas não conseguiram prosseguir até o cume. Ficaram trancados por dois dias nessa quota em meio a uma nevasca, e desceram sem o cobiçado cimo. Gasherbrum quatro a zero em cima dos tchecos !
POR FIM, OS LOUROS DA VITÓRIA
“Água mole em pedra dura…” e finalmente Marek Holecek realizou seu sonho.
Na companhia de Zdenek Hak, em 30 de julho de 2017, após cinco dias de escalada, a dupla da República Tcheca finalmente pisou no cimo do Gasherbrum I, abrindo uma das rotas mais difíceis e técnicas da montanha, um feito incrível.
De se notar que ninguém abria nova rota nessa montanha desde 2008.
Além disso, a presente década está muito conservadora em quantidade de novas rotas. Nos últimos sete anos, foram forjadas novas vias apenas no Nanga Parbat (2012, Mazeno Ridge Integral), no Broad Peak (2013, Rota Iraniana na Face Sul) e no Annapurna (2013, Rota Ueli Steck). A rota no G1 é, portanto, apenas a quarta rota nessa década.
 Autor: Rodrigo Granzotto Peron



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Texto publicado pela própria redação do Portal.

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